Saturday, May 26, 2012

LITTLE ITALY

As garotinhas se animam.
Vêm mais um ônibus da capital.
Procuram nas janelas suas paixões
Olham como se o grande amor, o príncipe encantado, estivesse dentro daquele malfadado bus.

Ofereço uma bala 7 belo pra uma delas.
Elas choram da minha cara
Riem do meu sotaque
E dizem que pareço um sapo.

Tento mostrar meu lado mais selvagem, idílico,gentleman.
O que esperar de garotas que acham o Neymar o cara mais lindo de sua geração.

Apresento a banda Lift To Experience pra elas, por um momento acho que catequizei.

Elas me olham com espanto de que nunca ouviram algo tão escroto na vida.

Saio à francesa. peço um café e pão na chapa na padaria.

Na tv, passa um programa do Globo News com a Antonia Pellegrino.

Penso no meu sobrinho com a sonda no cu.

Entram dois moleques na padoca. Eles começam a quebrar tudo. Taco de beisebol e uma guitarra de rock band são usados no ataque.

O moleque loiro, é a cara do Sebastian Bach,me olha e sorri. Parece me conhecer. Devo ter dado muita caixinha pra ele. Na época que o supermercado ainda funcionava.

Eles pegaram os celulares, carteiras e laptops da clientela, a mim, deixaram tomar o café da manhã em paz. Muitas vezes aconteceu isso na minha vida: por ser amigo de quase todo mundo, os bandidos assaltavam todas as casas do bairro, menos a minha.

Fiquei contente em ver uma menininha que era apaixonada por mim quando ela tinha 8 anos, estava andando pela rua. Perdida.

Naquela época, eu tinha 20 anos. Pensei em pegar nas suas coxas. Mas chamariam de pedofilia.

Não deu outra, a menina com aquela idade já tinha sex appeal, ela me reconheceu e perguntou se eu queria fazer um programa.

"Deixa pra lá, tô sem dinheiro"

"Eu faço de graça, é só me pagar uma dose"

"Eu não bebo"

"Tá,esquece, seu escroto".

Era a segunda vez que me chamavam de escroto.

Revejo meus pais. Como a broa de milho que só a minha mãe sabe fazer. Eles acham que mereço. Converso com o meu pai sobre a decadência do nosso time.

Entro no quarto, revejo algumas fotos antigas e não sinto nada. É, devo ser um escroto.

Escuto o barulho da moto. É meu irmão. O cara é exatamente o oposto de mim. Advogado, casado, mora em um mansão  e tem duas filhas lindas.

Uma delas de 14 anos, tentou pegar no meu pau, mas isso é uma outra história.

Ele acena pra mim. Não nos falamos há 10 anos. E parece que vai continuar assim. Deixou um perfume do Boticário pra mãe e uma camisa do Palmeiras para o pai. É um filho de ouro.

Há 20 anos, eu o salvei de uma gangue. Meu irmão era viciado em crack. Peguei um taco de beisebol( o mesmo que o moleque parecido com o Sebastiah Bach usou na padaria), e parti pra cima da gangue. Até hoje não sei como não me mataram.

Uma ocasião, tirei meu irmão da cadeia, não sei o que fizeram com ele, mas saindo de lá, ele se regenerou e virou esse babaca.

A Lurdinha, minha velha amiga, conversa comigo sobre os mesmos assuntos de outrora, não tô nem um pouco animado,só queria comer aquele rabo de novo.

É, sou um escroto.

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