Saturday, May 26, 2012

MORUNGABA

E tinha a rodada de pôquer
E tinha o final da novela
E tinha a rodada de pôquer
E tinha a fórmula de Bháskara

Estudava baixinho no quarto, a gritaria vinha da sala de pôquer.

Meu tio passava a mão na bunda da minha tia. Esse casal se amava.

Era só não mexer no dia sagrado do pôquer.
Eles pediam uma pizza.

Eu aguardava ansiosamente o dia seguinte para as bordas e azeitonas.

Ficava olhando aquelas fichas de pôquer e não entendia nada.

Na tevê, um episódio antigo de Chapolin.

Eu voltava a pé pra casa, a tempo de pegar o começo dos Anos Incríveis.

Um dia eles brincaram de pôquer, " ah, não, até eles!".

Precisava aprender essa bigorna.

E tinha aquela viagem pra Morungaba.

Viajei no último assento que sobrou do trem.
Uma gorda não deixava eu respirar.
Ela era do Maranhão. Me deu o Guaraná Jesus para experimentar. Tava quente. Na verdade, ela queria me dar outra coisa.

Eu ainda era virgem.

Em Morungaba, conheci um rapezi que jogava algo parecido com pôquer.
Quem perdesse, tinha que fazer troca/troca.

Graças a Deus, eu nunca perdi. O Ricardinho daquela turma, só se ferrava. Hoje é o maior chabi da cidade.

Não achei a menor graça no pôquer.
Naquela mesma noite das descobertas. Eu morri de frio.

Parece que a minha família bateu o recorde: jogaram 24 horas sem parar, sem sequer ir ao banheiro, uma partida interminável de pôquer.

O meu tio teve um ataque fulminante, comia a borda recheada de catupiry.

A minha tia foi logo na sequencia, minutos...

Nunca mais se falou de pôquer naquela casa.

Eu sou o maior campeão online.

E odeio essa cidade : Morungaba.

A gorda da minha mulher come até as fichas de pôquer.

O nome do meu filho é Royal Street Flash.

Se eu fosse vocês, nunca se aproxime das fichas desse jogo, quanto mais passar perto dessa cidadezinha.

Ela é só minha.





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