Friday, September 14, 2012

CARTA ABERTA AO FELIPÃO






"Amigo torcedor, amigo secador, por obséquio, hoje quero me dirigir, com mais uma epístola a um grande personagem do nosso futiba, ao Felipão, o bravo Luiz Felipe Scolari, gaúcho de Passo Fundo, o beque de açougue que virou professor de bola e ganhou tudo o que se possa imaginar neste planeta. Do certame alagoano, talvez o mais difícil dos trópicos, ao Campeonato Uzbeque.
Olhe que nem quis falar em Copa do Mundo. Só o Ronaldo e o Rivaldo, este Macunaíma do marketing boleiro, sabem, segredo, do que estou falando. Libertadores? Não falemos. Parece que Felipão nunca viu essa taça. E fazer do Jardel o gênio da raça? Não conta? O RH que demite um homem desses, na semana do aniversário dele, merece um pé na bunda e um chifre.
O homem que abraçou Deus e o diabo na terra do sol e repetiu o triunfo no deserto árabe. O xerife Gene Hackman (aquele do filme "Os Imperdoáveis", seu sósia), que levou os desacreditados caubóis da Pompeia ao título da Copa do Brasil deste ano. Um herói verde, clorofilado, uma autarquia, um milagreiro sem nunca ter sido nem querer ser santo.
Caríssimo Felipão, fiquei sabendo que foste demitido pelo Palmeiras. O colega Ivan Andrade, vizinho de prédio, me cantou a bola. O porteiro Marcos, corintiano, tirou a casquinha de sempre: "Agora é que cai mesmo". Lá da Rebouças, veio um grito anônimo: "Chupa, porco".
Pelas barbas do profeta, pelo bigode do Murtosa, será que tu eras o problema, tchê? Não creio. Tu eras a salvação da tropa. Tu não tinhas time e muito menos elenco. Tu chegaste a viajar praticamente sem jogadores de banco. Se Freud não sabia o que queriam as mulheres, imaginas, amigo, saber o que quer o Palmeiras, como me indagava, lá do parque Novo Oratório, no ABC Paulista, o cronista Marcelo Mendez, esverdeado até a alma.
Felipão, noves fora aquele afago autoritário, aquele bilu teteia que fizeste no Pinochet, tu és um grande cara. Pisadas na bola da história acontecem. O Palmeiras consegue demitir justamente este hombre. O candidato direto a técnico da seleção brasileira. Para trazer quem?
Listo os seis melhores do momento no Brasil: Jorginho, Luxemburgo, Cuca, Abelão, Zé Teodoro (Santa Cruz) e Flávio Araújo, do Sampaio Correia, o time de melhor desempenho, entre todos, de 2012. Foi com o enjeitado Jorginho, aliás, que o time da colônia italiana mais jogou bola nos últimos tempos. Voltará Jorginho, que está reabrindo no Bahia a nova tenda dos milagres? Duvido.
É, caro Felipão, acontece. Não em qualquer canto. Sobretudo no Palmeiras, bem sabes. Queres saber de uma coisa? Foste tu, não terias dúvidas. Iria tomar bons vinhos no Alentejo, mereces. Iria direto ao cozido à portuguesa. Chouriço de carne de porco com vegetais, ora bolas."
@xicosa
Xico Sá
Xico Sá, jornalista e escritor, com humor e prosa, faz a coluna para quem "torce". É autor de "Modos de Macho & Modinhas de Fêmea" e "Chabadabadá - Aventuras e Desventuras do Macho Perdido e da Fêmea que se Acha", entre outros livros. Na Folha, foi repórter especial. Na TV, participa dos programas "Cartão Verde" (Cultura) e "Saia Justa" (GNT). Mantém blog e escreve às sextas, a cada quatro semanas, na versão impressa de "Esporte".

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