Thursday, November 01, 2012

DESCARREGANDO O ÓDIO

Fotos: Raphael Pinotti





Pela primeira vez a banda Claustrofobia realizou seu próprio festival. Contando com a participação de mais duas bandas, o festival comprovou  que o público continua sedento por metal nacional de qualidade. 


No último dia 27 de outubro, a banda brasileira de metal,Claustrofobia,(natural de Leme-Interior de São Paulo), presenteou os headbangers paulistas, com o Pest Fest. Uma importante iniciativa para o segmento da música pesada. A banda já é habitué do underground,estão há anos na estrada e aproveitaram para fazer  a divulgação do seu último álbum( o quinto na discografia da banda) o elogiado "Peste".

O evento realizado no Cine Jóia( no bairro da Liberdade em São Paulo), inaugurou( se é que podemos chamar assim) o estilo nessa casa, pois, normalmente o lugar é utilizado por bandas indies.

O Claustro(como é conhecido pelos fãs) acertou em cheio na escolha da casa, um lugar pequeno, mas bem confortável(para os metaleros, o Cine Jóia é luxo), o fã de metal, infelizmente, está acostumado a ser tratado com pouca cordialidade pelos organizadores desses eventos, vide o Metal Open Air,entre outros festivais.

Na fila, presenciamos o respeito tanto por parte dos organizadores, segurança e público. Vieram pessoas de vários lugares para assistir o show da banda, destaque: um ônibus de Leme, a cidade natal do Claustro, lotado de metalheads, prontos para começar a gritar:"ole ole ola ola, Claustro, Claustro!".

Dentro do recinto, as bancas do merchandising abasteciam a galera; cds do Claustrofobia, camisetas, o livro "Metal Brasileiro" do guitarrista da banda idealizadora do evento, Alexandre de Orio; havia também ítens da primeira banda a se apresentar no festival, o Project 46.

O Project 46  faz um metal/hardcore que não deixa pedra sobre pedra, o vocalista Caio MacBeserra é um caso a parte- berra igual a um porco lutando contra um leão, não tem como melhorar sua performance. Animou muito o público presente, lançando "petardos" do seu primeiro disco,"Doa a Quem Doer", formaram várias rodas na pista, muita gente com a camisa da banda, agradando a banda paulista. MacBeserra agradeceu ao Claustro pela oportunidade:" o Claustrofobia tem 80% de responsabilidade por o nosso som ser assim... músicas em português, eles são uma inspiração para todos nós e para vocês, tenho certeza disso".

A próxima banda a se apresentar, o Oitão, do figuraça Henrique Fogaça(renomado chef de cozinha), apresentou um hardcore/punk/metal, com letras fortes(algumas inspiradas em grupos de rap) e postura maníaca do frontman. Com imagens projetadas no telão,  o show era exibido  de forma bem inovadora, parecia que estávamos dentro de um videoclipe, o Oitão despejou toda a violência característica. Tadeu(guitarrista do lendário, Centúrias), o baixista, Ed, e B.A(batera), incendiaram o Cine Jóia, com músicas como:"Chacina", Não me Entrego Não" "Tiro na Rótula", "4º Mundo" "Solidão", entre outras, provaram que as letras politizadas do punk nacional dos anos 80 estão de volta. Vida longa ao Oitão, os fãs estão esperando o próximo disco.

Lembram do "ole ole ola ola, Claustro, Claustro" citado acima?  O coro ficou maior ainda, com o Cine Jóia inteiro gritando a mil. Alexandre de Orio, Caio D'Angelo(bateria), Daniel Bonfogo(baixista) e Marcus D'Angelo(guitarra e voz) entraram no palco, já ovacionados pelos claustromaníacos... essa banda que desde 1994 está na ativa, ralando, entrando em furadas, passando fome, frio, fechando contratos com gravadoras,e agora conta com uma excelente equipe de roadies, estava ali para gravar seu primeiro dvd. A banda para comemorar,  sorteou duas guitarras(na verdade eram três), mas resolveram homenagear o Toninho Iron(por tudo o que ele fez e representa para o metal nacional) , o presidente do fã clube do Sepultura, que também esteve presente no evento, é amigo de longa data da banda. Fernanda Lira(baixista e vocalista da banda Nervosa), Amilcar Christófaro(batera do Torture Squad) e Thiago Carioca(baterista do Presto?) eram alguns dos músicos que foram prestigiar o show do Claustrofobia. 

Após Marcão começar dizendo :"vamos descarregar o ódio nessa merda", a banda entrou  com a maravilhosa "intro"(não está em nenhum álbum), deveriam colocar no próximo( segundo os próprios caras da banda, o próximo  disco está metade pronto), mas voltando ao "Peste", o primeiro lançamento da banda cantado inteiramente em português, a primeira música foi a que leva o mesmo nome do cd, o Marcão já foi soltando a voz, com todos os fãs cantando:"é pior que febre, Claustrofobia é Peste", a seguinte "Metal Maloka", não tem como não se identificar com essa canção:"metalero, maloqueiro, possuído o dia inteiro", as agruras de ser um banger aqui no Brasil. Em seguida mandaram a "Thrasher" do segundo disco que leva o mesmo nome. Difícil lembrar da sequência certinha das músicas, mas certeza absoluta que eles tocaram:  "Condemned", "Rainning Shit" "Enemy", Paga Pau", "Terror and Chaos" do primeiro álbum, "Selva Urbana" -também do primeiro-a surpresa da noite, "Realith Show","Discharge",  do até então, predileto desse jornalista, o álbum Fulminant(após ouvir o "Peste", o Fulminant foi parar no segundo lugar), "Eu Quero que Se Foda" do mesmo "Fulminant", do disco "I See Red"( a própria banda acha que esse trabalho não foi tão valorizado como deveria), eles tocaram "War Stomp", "Don't Kill The Future" em homenagem àqueles que não desistem mesmo vivendo nessa porcaria de país, e "Natural Terrorism". Eram tantas rodas, tanto "ódio protetor" como diria a banda "dona" do festival, que até o B.A(batera do Oitão) não aguentou e foi para a "pancadaria". 

O momento mais marcante do show, talvez tenha sido quando  o grupo de samba Batuque de Corda invadiu o palco, e fez ao vivo  a grande música do "Peste",  "Nota 6.66", ficou perfeita a química entre o grupo de samba e o conjunto de metal, não teve um que não se emocionou com esse espetáculo, provando que quando é feito com o coração, não existe preconceito. Um dos momentos mais aplaudidos do show. O povo foi ao delírio, Marcão disse:" assim vocês vão me fazer chorar... há 18 anos lutando por essa banda(já posso ser preso)... estou chorando há um mês em função desse festival...". 

"Bastardos do Brasil" teve a sua letra cantada com toda a raiva pelo público,letra nota 10, no telão imagens do Brasil apareciam e faziam um belo paralelo com o som e a energia da banda. Em mais uma do Peste, "Bicho Humano" contou com a participação de Henrique Fogaça(Oitão), e Ciero( o produtor de quase todos os discos do Claustro), nas palavras do Marcus:"ele é o quinto integrante da banda, nós amamos esse cara", essa música com três guitarras e o vocal retardado e fantasiado de uma máscara louca( e ainda empunhava uma faca) do Henrique, botou o lugar abaixo. "Pinu da Granada","Alegoria do Sangue", e "Vida de Mentira" finalizaram o show matador com oito faixas dos 10 do último disco. No bis, rolou uma homenagem aos políticos( as eleições para o segundo turno iriam ocorrer mais tarde) , a cover do Ultraje a Rigor, "Filha da Puta". 

Pra quem acompanhou o Claustro em 2004 no Sepulfest, abrindo para os ícones, Sepultura, e assistiu o primeiro festival próprio da banda,  entendeu como o grupo é uma consequência- é a evolução do metal nacional. Estamos bem representados, e qual banda faria uma cover tão perfeita de "Arise" para encerrar de vez o show com chave de ouro , se não os próprios caras do Claustrofobia. Que venham mais Pest Festival, Claustro Festival...

O Set List oficial:








2 comments:

Ha said...

Muito legal ir a esses shows com vc amore, só assim me liberto um pouquinho que seja. bjs.

Pedro Pellegrino said...

Amo você! Rock and roll! Beijos!