Tuesday, January 08, 2013

Digitador-início imediato

 Os recrutadores de trabalhadores ficam ali na Barão de Itapetininga, centrão de sp. Antes tinha passado em um motel deixado meu currículo para vaga de recepcionista- se você pensar bem, essa palavra é estranha quando empregada para o homem- beleza, resolvi tentar a sorte no coração da cidade, perto do marco zero de São Paulo. Havia lido no guia de empregos da Folha que estavam precisando de vendedores de seguros.

Na rua, os tiozinhos ficam com um prospecto/uma pastinha lotada de vagas. Todos os empregos possíveis e imagináveis. "Degustador", achei uma boa. Entreguei o cv para o cara, "estou indo fazer minha hora de almoço, já já eu entrego", sei...

Na mesma calçada, estava escrito:"digitador-início imediato", resolvi tentar. "é só subir as escadas, quarto andar". Na portaria tive que fazer um cadastro, tiram uma foto sua, aposto que saí com uma cara de ódio. Pingando, um sol pra cada um.

Na agência de empregos uma fila de jogo de futebol. Esperei duas horas e meia. Passei por duas entrevistas. Conversei com uma nordestina. Tem mina que vai pra entrevista de emprego de shortinho, uns mano com roupa de pedreiro, mas esses eu não discrimino, obviamente é a única roupa que ele tem.

Fiz um teste, "digite essas palavras aqui e esses números em 10 minutos", passou bem mais que dez minutos, a tia apontou pra mim:"ih, meu jovem, esqueci de você". Melhor pra mim.

Fui fazer exame médico. Mais duas horas de fila. Cheguei 12:30, às 17:30 tava colocando o pé na porta. Com a carteira de trabalho carimbada e o contrato da empresa.

Fiz o exame de audiometria, entrei numa cabine, a mulher ficava perguntando se eu escutava, se sim eu levantava o braço correspondente ao lado do ouvido que o som saía. Fui aprovado. Com todo o meu death metal na cachola, ainda estou escutando muito bem.

Resultado: não era pra eu ter feito esse exame. trocaram as bolas, precisava fazer o exame admissional, fiz no dia seguinte, correndo que nem um louco. Levantei da cama às 11 da matina, a agenda era: ir para o centro, peguei busão, metrô, desci na estação República, fiz o exame correto, antes de ter discutido com a moça(pela segunda vez me mandaram para o lugar errado), "senhor, estamos em horário de almoço, só abre a uma", o horário marcado para comparecer na empresa no primeiro dia de trampo era a uma, ou seja, fudeu.

Depois de ter evaporado para o outro prédio, feito o exame com um médico bem velhinho, a moça já sabia quem eu era, me passou na frente de uns 50.

Peguei a parada, passei na agência de empregos, deixei o comprovante de residência que ainda faltava, o responsável pela papelada, sangue bom, ficou espantado quando eu disse que entrava na firma daqui meia hora, eu ainda precisava pegar um metrô, fazer duas baldeações.

Antes da 13h00 entrei na empresa que estou trampando. "Vamos fazer o crachá", gostei que na minha foto eu saí com a camisa do Bruce.No crachá está escrito validador de dados, mais chique. Peguei o cadeado do armário, guardei minha mochila, fui beber uma água, estava com uma sede de quem passou um ano no deserto. Daria minha vida por uma coca. Bebi água.

Só no horário da janta, tomei um refri, uma mina que troquei ideia não entendeu, "ficou falando toda hora que gostaria de uma coca e pediu um guaraná zero". Vai se acostumando.

Na hora de me cadastrar no ponto da empresa, atrasei todo mundo(é claro que tinha que acontecer isso, caras complicados são sempre assim), minha mão é muito suada, e não cadastrava o dedão nem ferrando, o dedo indicador direito passou fácil(três vezes coloque o seu dedo, dizia  o encarregado), o dedão direito não teve jeito, com o esquerdo foi de primeira, vai entender esses negócios.

Sentei  no computador ao lado de um headbanger. Ficamos conversando sobre música, Nicola, seu nome, italiano, e toca guitarra numa banda cover de Accept. Ficou soluçando o tempo todo(disse que passou três dias soluçando, e só passou com uma injeção), arrotando e fazendo gutural, estou em casa.

Estou curtindo o trampo, ficamos digitando o tempo todo, mas é suave.Não é preciso pensar muito, nem atender o público. É assim que eu gosto. Vamos ver quanto tempo vou durar, mas por enquanto tô gostando.

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