Não tomei bala de borracha. Não senti o hálito do spray de pimenta. Não respirei o gás lacrimogênio. Mas consegui me cortar no portão de casa.




Correria. Mala pesada pra cacete. Pega busão. Pega metrô. Encontra a minha big sister Patricia Grillo. Ela me presenteia com milhões de cds/dvds. Só consigo ver com calma quando chego em casa. Abrir o pacote e olhar pro "Segunda -Feira ao Sol" é indescritível. A mochila fica ainda mais pesada. Deixo as minhas coisas na minha tia Eliana Pellegrino. Vou pra manifestação com a Hadil. Queria ter ficado mais. Tava muito cansado. Acho que era o peso das coisas. Volto pra minha tia. Sempre sou muito bem recebido por lá. Às vezes fico meses sem passar na casa dela. Sou um bocó mesmo. Ouço as histórias do meu tio José Martelletti do seu tempo de militante. Histórias bem engraçadas. Ganho mais uma mala ainda mais pesada de vhs. Paraíso para um fanático como eu. Três malas hiper pesadas. Quase meia noite. Não consigo pegar a Linha Amarela. Me ferro. Tenho que andar com as malas até a Consolação pra pegar o bus. Estava cheio o ponto àquela hora. A cidade tomada de PMs. Se não fossem os policiais, eu iria achar que estava no set de filmagem(?) do livro Blecaute, do Marcelo Rubens Paiva. Umas minas loucas tavam gritando viva a maconha, um molequinho de uns 5 anos também berrava. A mãe era louca. Ou eu que sou louco. Subi com as três malas no ônibus. Cheio. O garotinho ficou brincando com uma tinta e desenhava em um cartaz. A mãe dele ficava falando comigo. Um sonho do meu lado. Peguei no corrimão, fiquei com a mão cheia de tinta. Faltava pouco pra chegar em casa. Não aguentava mais carregar nem uma pena. Chego em casa, o porteiro abre a porta e fala:" deu certo os protestos,hein?!". Meus olhos cansados. Não tô enxergando mais nada. O laptop cansa a vista, as lentes de contato detonam meus olhos. Mas preciso escrever, sabe como é,né?!