( Coronado, Dennis Lehane)
Uma vez eu escrevi um poema. Ou era uma letra de rock. Vivia escrevendo poemas em forma de letras de rock.
Gostava de escrever de uma forma mais niilista possível. Estava pensando em letras punk. Isso foi há muito tempo.
Vou chutar por baixo, espero fazer um golaço; quando escrevi essa, eu tinha uns 17, 18, talvez menos, ou mais. Não tenho certeza, vou ficar na média, 18 anos.
Quem me conhece sabe que o meu desejo sempre foi montar uma banda de rock. Por pura preguiça, acomodamento, ou falta de talento, eu não fiz. Lembro de sugerir com o meu amigo, Thales, que o nome fosse Stronger Than Hate( só por aí vocês já percebem), anos depois fui sacar que o Sepultura, no disco Beneath The Remains, tinha uma música com esse título.
A banda nunca foi pra frente, é claro, só o nome ficou. Escrevi uma poesia( ou uma letra de rock) com esse título, só que em português.
Milhões de anos se passaram, eu continuei escrevendo, e sonhando. Setembro de 2009, eu trabalhava no jornal Centro em Foco, do meu amigo, Carlos Moura . Fui incumbido de cobrir um festival de bandas independentes( Eduardo Santos, Erika Prates) . Que chato,não?! Para um jornalista apreciador e devorador de rock(Almost Famous), trabalhar escrevendo sobre um festival de bandas independentes é tudo o que ele quer. Mas na verdade eu nem sabia o que ia rolar por lá. Quais estilos musicais estavam na programação.
Normalmente nesses festivais, tem muita coisa ruim(na minha opinião), e uma banda ou outra acaba se salvando. Uma dessas bandas era o Muqueta Na Oreia. Fiquei impressionado com a vontade dos caras, mesmo tendo pouca gente no Parque da Luz, eles tocaram num coreto. Havia mendigos dançando e cachorros de rua farejando a encrenca.
Como sempre admirei o barulho, metal está no meu sangue(desde a primeira vez que escutei o "Arise"), eu curti pacas o estilo da banda. Fiquei até encabulado, pois a minha vontade era sair pro mosh, mas eu estava como jornalista, mas mesmo assim, não resisti e balancei a cabeça.
Escrevi uma matéria sobre o festival para o jornal. Mandei pelo correio pra eles. Um ano depois, eu nem mais trabalhava no jornal, meu amigo, Rödrigo Söuza Killmister, trampava lá, me liga avisando que chegou uma encomenda da banda Muqueta na Oreia de Embu das Artes para mim.
Fiquei pensando como aqueles caras ainda lembravam de mim. O que será que era? Foi a primeira vez que uma banda mandou uma coisa pra mim, sem eu pedir, sem eu pagar.
Chegando em casa, abri o pacote e estava lá o primeiro álbum deles, "Lobisomem em Lua Cheia". Achei uma atitude bem bacana eles se lembrarem de mim e me presentearem com o disco. Porém, o melhor ainda estava por vir...
Na parte dos agradecimentos, eles agradeciam a um tal de Pedro Pellegrino, e ao jornal Centro em Foco. Porra, a sensação foi indescritível ler aquilo. Eu que a minha vida inteira fiquei analisando com um cuidado de um arqueólogo que busca encontrar um tesouro, eu analisava o encarte dos vinis, e dos cds. A ponto de sacar qual era o som da banda antes de ouvir.
Em 2011, por acaso, encontrei o vocalista da banda, Ramires, no SWU. Conversamos, foi muito legal, tiramos uma foto clássica. Para a minha alegria, o Ramirão e a Muquetada sempre coloca a foto no Facebook.
Após esse encontro, passamos a nos falar mais. No começo de janeiro de 2012, eles me convidaram pra assistir um show deles no Festival F.O.D.A( Festival Oficina da Arte), do Palazini Oda. Conheci toda a banda, era a primeira vez. O engraçado que, o primeiro integrante que entrou em contato comigo, havia sido o batera,Henry Souza, ele tinha mandado um comentário no meu blog perguntando o que eu tinha achado da banda. E além de ter sido a primeira vez que os assistia, também foi o primeiro show do Henry no show do Parque da Luz.
Me surpreendi com o show da banda. Nitidamente, a banda havia evoluído muito desde aquele show no Parque da Luz em 2009.
Percebendo essa interação com os caras, sugeri, perguntei, se eles queriam um assessor de imprensa. Eles toparam. E passamos a trabalhar juntos.
Para mim, não era um trabalho, eu estava o tempo todo com uma banda foda, vivendo o dia-a-dia de uma banda, para mim era... sei lá o quê.
Resolvi ser mais cara de pau ainda- já tinha comentado com o Ramires se eu poderia fazer uns backing vocals guturais no próximo disco, sim, eles estavam gravando o sucessor do "Lobisomem em Lua Cheia"- eu mandei umas letras( poemas, olha a confusão aí de novo) para o vocalista. Às vezes faço essas loucuras,e depois morro de vergonha das cagadas. Fiquei matutando, o que o cara vai pensar? Puta pentelho que eu sou.
O mais espantoso foi o crooner ter curtido e me feito uma surpresa ao apresentar uma nova música chamada "Imortal" de um maluco chamado Pedro, no ensaio da banda. Caceta! A ficha não tinha caído e ainda não caiu.
A música está no novo álbum da banda. O poderoso "Blatta".
Um parênteses: diversas vezes o cantor vinha com as letras e mostrava pra mim, querendo uma opinião, eu me sentia honrado.
No sábado, eu fui pra Embu pegar o cd. Falei para o meu amigo Ramires, não vou escutar no carro pois periga eu bater. É um contra-senso, pois a letra da música... risos. Calma, minha família, it's only rock 'n' roll( but I like it). Hoje em dia se eu fosse fazer uma letra como essa, eu a faria pior.
Disse um parabéns pro Ramires, ele disse:"parabéns pra nós!". Eu eternamente tenho que agradecer esses caras por realizarem um sonho meu de infância, porque eu me sinto um integrante da banda, assim como o Alek's Hitch , Marcelão, entre outros boa praça.
Já posso me considerar um imortal. Desculpa aí a arrogância, eu não sou, mas é que o metal me fez um cara melhor. E querendo ou não, um dia daqui a 10 anos um moleque pode pegar esse disco clássico e vai ler a minha letra lá... sem palavras.
Meu próximo objetivo é se tudo der certo( e vai dar), é viajar com os caras(em turnê) e daqui uns anos escrever um livro a respeito das histórias, confusões, cagadas e dramas que todas as bandas passam.
Quem ouviu o primeiro cd, vai gostar ainda mais do segundo, e nos concertos poder ter certeza que o silêncio vai lhe incomodar.
"Blatta", é barata em latim. Elas estão aí há milhões de anos, sobrevivem a tudo, assim como uma boa banda de rock tem que fazer de tudo para permanecer viva nesse país que só valoriza porcaria.
E visionários, os Muquetas(www.facebook.com/MuquetaNaOreia), no encarte do play, colocaram Brasília destruída, ninguém iria imaginar que os protestos começariam e mudariam o país. A banda pode mudar a sua vida, a minha pelo menos eles mudaram.
NÃO SAI DO REPEAT
Dei um stop no disc-man(é, fazia um século que não usava, só essa banda pra me fazer desenterrar esse aparelho), e lembrei dos ensaios, das criações das músicas, eu vi tudo ali sendo criado, acontecendo, escutar a obra pronta depois no cd é estupendo. As influências dos caras, também são as minhas, cada um influencia o outro a sua forma. O novo trabalho não poderia terminar de outro jeito a não ser com a risada da vovó. Um espírito de alegria em meio ao caos destruidor da banda.
Vou querer ir até uma loja de música e ter o prazer de comprar o disco, vou fazer isso sim, discos bons a gente compra, empresta, e presentea os amigos e inimigos.
Mostrei a música "Nova Era" para um colega do trabalho, o cara tem mais de 50 anos, ele não gosta muito do estilo, mas elogiou muito a gravação da banda, "tá bem gravado,hein?! porra, como a gente não fica sabendo dessas bandas?! tanta banda de qualidade por aí...".
Fazia muito tempo que não tinha esse sentimento, querer acordar logo para escutar mais uma vez o cd(acordar de sobressalto, sonhar que eu tinha mandado mais uma letra pro Ramires) , querer voltar logo pra casa só para ouvir mais umas 1000 vezes.
As canções ficam na cabeça, há dias eu estou com uma frase na minha cachola e eu queria descobrir de quem era, antes de ver o encarte do cd e descobrir que a frase era do Muqueta:"é por isso que eu mudei de lado". Banda boa é assim, fica no seu subconsciente.
Gravação do cd:
Obs: só uma pergunta que não quer calar? Cadê a música que falava de satanás?(risos).
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