Thursday, September 15, 2016

Minha Independência

De todas as derrotas que eu vi no estádio contra o São Paulo.

De todas as vezes que eu não via graça em ganhar do Corinthians, o que eu queria era ganhar do São Paulo. Pergunte para o Oberdan Cattani ( se ele tivesse vivo, ele teria sorrido ), pergunte ao meu avô Vicente, ao meu pai Vicente , ao Galuppo, ao Barneschi, ou a mim mesmo que desde a época da escola não parou de ouvir dos amiguinhos sãopaulinos que o seu time era bicampeão da Libertadores e Mundial.

Daquela vez que fomos eliminados por cartão amarelo, pois é... eu estava lá.

Do 1x1 heroico do Palmeiras em uma Libertadores, de uns 5 x1 , meu primo Guigo que estava comigo diz que foi 4x1-ah ,menos mal-, em um nada saudoso campeonato Paulista.
Do gol do Cicinho de fora da área, Libertadores 94, 2005 e 2006.

Eu aguentei tudo isso. E nunca tinha visto uma vitória no estádio contra o São Paulo.

Parecia uma sina que não ia acabar nunca. Tá certo que sou um cara que não vou a muitos jogos, até gostaria de ir mais, mas como a vida é sempre atribulada, não consigo. E o Palmeiras a bem da verdade, machuca muito a gente. Se a sua vida está errada, o Palmeiras não vai amenizar, ele vai te colocar na mais divertida depressão.

Pra mim, o ano de 2012 foi o mais louco possível: meu pai doente, Palmeiras campeão da Copa do Brasil, o título que mais chorei, fui para New Jersey assistir o Bruce, e o Palmeiras no final do ano foi rebaixado.
O Palmeiras nunca dá uma folga para nós .

O Palmeiras é aquele amigo que sempre vai dar uma quebrada no seu ânimo: " mas como assim você comprou esse carro? É péssimo !
Essa mulher que você está namorando... já deu para o Joãzinho, é aquele serial killer do bairro" .

Mas quando o Palmeiras vence...

Nada mais importa. Por alguns dias aquela torcida sofrida vai poder bater no peito e dizer que irá pintar a cidade de verde e branco.

Ontem o meu dia começou inusitado:
Há quanto tempo eu não ia no estádio? A última (e primeira na nova arena) vez foi no começo do ano passado num amistoso contra os chineses. Time do Vágner Love e do Cuca (será?). Depois fui na festa que os palestrinos fizeram antes da final da Copa do Brasil 2015. Eu não fui no jogo, mas precisava estar na comunhão palmeirense, o corredor verde antes do jogo. É parece que deu certo: fomos campeões.
Então, faça as contas aí, meu chapa, fazia muito tempo que eu não ia no belo Allianz Parque.

Voltando ao início do meu dia, meu primo(Kaká) sãopaulino, não é o jogador, fez uma festa de aniversário, e quem estava na festa? O presidente do São Paulo , Leco.
O Leco é amigo da minha família há muitos anos. Ele foi síndico do condomínio no interior de sp , onde a minha família tem casa . Isso há muito tempo. Quando os dinossauros caminhavam sobre a Terra.

Eu como tenho essa besta mania de ser muito sincero , comentei com todos que nunca havia visto uma vitoria do Palmeiras frente ao São Paulo in loco.

Pronto, virei a chacota da festa, tudo com bom humor, diga-se de passagem. Mal sabem eles que numa certa ocasião comprei um ingresso do choque-rei, não fui e o Palmeiras ganhou, gol de Itamar. Veja você... No Morumbi .

Ontem, quando o São Paulo fez o primeiro gol , tudo isso estava em minhas costas . A minha vontade era pegar um bonde e voltar para uma época que o Palestra Itália ganhava do São Paulo.

Me deu uma vontade tremenda de sair do lugar onde eu estava no estádio.
Hoje não! Hoje não! Hoje de novo?! Não!

Se perder essa partida , eu quero que se foda esse campeonato, dane-se o título, dane-se! Bando de incompetentes! Cuca burro! Mexe aí !
Olha a seleção (e o cara da seleção) que você tem no banco...

E saiu o gol do Mina! Eu nem acreditei. A gente se acostumou a ser derrotado. "O que eu vou dizer lá em casa ?" . Já diria o sãopaulino narrador Sílvio Luiz.

Repita comigo no replay, saiu o gol!

Eu gritei, berrei, vi aqueles pontinhos pretos, tudo piscando,
eu já sabia( sabia o caralho ) que iríamos virar.

Segundo gol. Apoteose. Mais pontos pretos no céu. Ou seriam verdes?

Rouco de tanto gritar, com o pé doendo depois do chute que dei na cadeira após o primeiro e único gol do São Paulo.

Nós ganhamos!

A vitória da minha vida, até pouco tempo atrás eu já tinha entrado em parafuso, eu queria ir pra casa , agora eu tenho certeza que seremos campeões.

Em 2012 eu chorei com o título.Porque eu achava que nunca mais veria o Palmeiras campeão.

Em 2016, meu avô está no hospital, mais uma semelhança com 2012.

São 21 anos sem o título brasileiro.

Dia 7 de setembro , o dia que vi minha famiglia, o dia que encontrei meu amigo Mateus Carrieri , o dia que deixei de ser pé frio e vou colocar junto com os títulos que assisti no estádio: Campeonato Brasileiro 93,Copa do Brasil 98, Copa Mercosul 98 e tantas vitórias inesquecíveis, eu vou colocar o título do brasileirão 2016

E mesmo se não vier , o dia 7/9/16 foi o meu dia da libertação.

Thursday, January 21, 2016

Um homem caminha, ele ouve um estampido
Ele olha para o céu
Flashback
Lembra do dia que a conheceu

Ele não era mais o mesmo
Ele se ajoelha
Pede perdão
Mas não há mais tempo

Os tiros já vieram

E o acertaram

No único lugar onde ele ainda estava são.

https://www.youtube.com/watch?v=3FgBFxEB8kg

Monday, January 18, 2016

POR UMA NOITE ESPETACULAR

( No Escorpiões Moto Clube, ao final do show, todas as bandas foram fotografadas por Felipe Muniz)     

Era uma vez um menino. Esse menino gostava de rock and roll. Esse menino respirava rock and roll.
Ele teve várias bandas, ele cresceu, amadureceu e envelheceu no rock and roll.
Quem está de fora, acha que o roqueiro só tem felicidade no seu dia-a-dia(?), os enxeridos ficam vendo as fotos, a adrenalina estampada no coração dos jovens cabeludos e imagina uma vida sem responsabilidade, sem eira nem beira, sem família e sem futuro.

É aí que 99% das pessoas se enganam. O roqueiro brasileiro precisa é ralar muito para poder no final de semana ter algumas horas de satisfação e prazer.
A sua tribo é aquela do final de semana. No restante da semana, ele sobrevive, aguentando as mesmas piadinhas eternas, o mesmo sermão sobre o rock and roll ser do capeta, as mesmas perguntas sobre a sua tatuagem e qual será o seu futuro.

Existe o menino que aprendeu a amar o rock and roll, ele começou a trabalhar pela sua região, pela cena roqueira do seu bairro. Ele enfrentou Deus e o Diabo para realizar os eventos, ele colocou várias bandas em seu primeiro show, como por exemplo, a banda Liférika, que abriu o evento realizado em prol do músico e produtor de shows, Shampoo.

A casa do Shampoo foi devastada pela enchente que assombrou Taboão da Serra no último mês. As bandas Muqueta na Oreia, Liférika, Endigna e Santa Zona resolveram organizar um evento para arrecadar uma grana para o Shampoo.

O concerto, realizado no último sábado, dia 16 de janeiro, teve um excelente público. O roqueiro sabe que é importante ajudar quem todavia esteve ali pelos seus. Com várias rifas e grandes prêmios sorteados, o evento foi um sucesso.

Quem abriu os trabalhos foi a banda Liférika, despejando seu rock and roll com pitadas de Chuck Berry, punk 77( mas o primeiro disco dos Ramones é de 76, já diria o baixista do Liférika) e rock nacional. O ponto alto do show , o discurso do vocalista Diego soltando o verbo:"Shampoo... Shampoo(apontando para o Shampoo)... Shampoo... você é foda!".

Após a primeira troca de palco, os integrantes das bandas começaram a se ajudar para realizar o bingo. Ramires(vocalista do Muqueta na Oreia) pegou o microfone e começou a brincar e berrar os números-chegou uma hora que os fãs da bandas acharam que ele não teria voz no show do Muqueta, mal sabem eles...- informava  sobre os prêmios e ainda tirava sarro daqueles que não acertavam um número:"cheguem mais perto do palco, quem está aí no fundão, está com a energia negativa", entre outras pérolas anunciadas no Bingo da Amizade( salve Hermes e Renato).

A próxima banda a se apresentar no S.O.S Shampoo( nome do evento beneficente), SantaZona, mandou o seu habitue estilo cascudo inspirado nas bandas de rock & roll, tais como: Black Crowes, riffs de Black Sabath e o jeito único de seu vocalista, José Dutra, um MC do Rock and roll, com a sua indefectível camisa da banda La Coka Nostra e o boné do AC/DC.


Já era tarde da noite, quando o Endigna entrou no palco com a  fúria de sempre. A banda está com uma nova formação, Victor Rocha é um guitarrista bem técnico e com um excelente feeling, ainda está se adaptando ao estilo Endigna- não é fácil dar gotas de sangue acompanhar a carismática e competente vocalista Thais , seu marido Tiago(cada vez mais evoluindo na batera) e o extremamente talentoso baixista Turin. Em todos os shows da banda, o final é matador, com a canção "Espírito de Porco", e a performance da cantora não deve nada às grandes vocalistas de Metal.

Para encerrar a noite em grande estilo, a banda mais famosa da região: os embuenses do Muqueta na Oreia. É impressionante o que eles fazem no palco;só quem já presenciou um show dessa banda, sabe que existe o Antes e Depois de ter visto os caras em ação. É uma maravilha do som pesado, uma obra-prima pra quem gosta de metal pauleira( já diriam os entendidos). Tocaram algumas músicas que há tempos estavam fora de seu repertório, como a "Sem Medo de Morrer", e uma cover do Pantera, "Cowboys From Hell", levando o público ao delírio. A sintonia entre a plateia e a banda estava perfeita, fazendo com que o vocalista Ramires destruísse o seu surdo(instrumento de percussão), tamanha a vontade em corresponder a energia da galera. Esse ano a banda lança o tão aguardado terceiro disco, e promete uma turnê pelo Brasil, começando o primeiro capítulo em fevereiro, se apresentando no Palco do Rock, em Salvador, na Bahia.

Ainda restava A surpresa da noite: as quatro bandas uniram-se para prestar uma linda homenagem ao Shampoo. Executaram uma música composta pelas bandas chamada "Shampoo", para a emoção genuína do homenageado.

Foi um maravilhoso evento, a prova viva que o roqueiro, o headbanguer, o metalhead, seja lá qual for o nome que a mídia irá dar, gosta de esquecer os seus problemas, gosta de ajudar os irmãos, independente da sua religião, o menino, o garoto, o adolescente, e o homem, toda vez que olha para um pôster do Lemmy Kilmister, um pôster do David Bowie , ele deseja que todas as suas noites sejam espetaculares ao som do seu amor eterno: o rock and roll.