Friday, July 13, 2012

Xico Sá

Caubóis da Pompéia
A saga verde na conquista da Copa do Brasil foi um autêntico 'Meu ódio será sua herança'

"Amigo torcedor, amigo secador, se fosse um filme de faroeste, a conquista do Palmeiras, campeão invicto da Copa do Brasil, poderia se chamar "Os Renegados". Alvo de chacota da imprensa e de pedradas até de parte dos seus próprios fãs, os caubóis da Pompeia se vingaram com o título da nossa taça mais nacional, a única que vai do sertão ao cais, espécie de Coluna Prestes da bola.

Até o discurso da comemoração, você reparou, caro palmeirense, saiu mais para o desagravo, a legítima defesa da honra do grupo, do que para a desabrida alegria da vitória. Muito compreensível. Entendemos a voz empoeirada do velho oeste sem carecer de legenda.
Os caubóis renegados da Pompéia têm pleno direito ao desabafo. Quem acreditava neles? Quase ninguém. E ainda chegaram à decisão com um time em remendos, sem o mago e sem o pirata. Com homens machucados, porém destemidos.
A saga verde foi um autêntico "Meu ódio será sua herança", para citar o filme predileto do meu amigo palmeirense Marcelo Mendez, um cronista basco-nordestino nascido no ABC paulista.

A Copa do Brasil, assim como a vida, é mata-mata. Um torneio onde os fracos não têm vez, agora lembrando a brutalidade do maior faroeste moderno, o dos irmãos Cohen. Cada jogador do Palmeiras foi um Anton Chigurh, o matador interpretado pelo espanhol Javier Bardem, nessa jornada.

Sim, eu poderia estar aqui exaltando o futebol-arte, o fino da bola. Não vem ao caso. O triunfo do Palmeiras é de outra natureza. É de bravura. Nem por isso deve deixar de ser celebrado. A coragem talvez seja o maior luxo da condição de ser homem.

Só perde, talvez, para a vergonha na cara. Os renegados da Pompéia souberam dosar as duas qualidades. Mesmo sob chuva de balas não fugiram ao duelo sob o sol das contrariedades. Bravos.
Ah, como poderia esquecer, uma vez que o assunto é o fantástico mundo do faroeste -talvez a maior metáfora da nossa gloriosa existência. Como esquecer que o técnico Felipão, dublê de Gene Hackman, fez, na Copa do Brasil, o papel de o xerife de "Os Imperdoáveis", a fita genial do velho Clint Eastwood.
Para quem enfrenta uma confusão caseira sem limites e muitas dificuldades técnicas e humanas, o título do Palmeiras vai ficar na história como uma bíblia, um exemplo. Perto dessa conquista, toda prateleira da autoajuda agora é nada.
Parabéns, destemidos caubóis esverdeados!"

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