Tuesday, June 19, 2012

Poema de Bruno Bandido

um estranho sinal de moderação
16/06/2012
ela se joga em ácido
cortando a língua de anjos
e grita comigo, quase feroz,
quando chego do trabalho.

são dezoito e trinte e cinco
e eu trouxe pães.
tu come a tua colega, ela diz,
aquela negrinha.
coloco água na chaleira e fico
procurando o maldito pote
de café.

eu sei que tu come,
tu passa a tarde comendo
ela. Deus tem um maldito
senso de humor.
por que eu fui me juntar
com um tarado por negras?

a chaleira começa a dar
algum sinal de vida e
me dou conta de que
talvez tenha acabado
o café.

pego as chaves e saio
porta afora.
aonde tu vai? por que não
casa logo com ela?

entro no mercado,
faço o que tenho que fazer
e sento na frente de um
cursinho pré-vestibular
e fico admirando
as meninas.

elas são lindas -
estúpidas a ponto de
parecerem felizes -
e não há bunda
que não seja
um presente.

se eu ficasse sentado aqui
por uma semana
cometeria suicídio,
mas esses vinte minutos
são algo como o paraíso,
é o que penso.

tenho certeza
que ela não desligou o
fogo
e a água lá em casa
deve ter virado
vapor.

http://brunobandido.wordpress.com/


Texto da Paula Santa Klaus:


pós escrito.

mãos e pés formigando, o braço inteiro. calafrio. aquela sensação de que alguma coisa vai acontecer a qualquer momento. aquela coisa que eu fico esperando mas não sei dizer bem como. vou até a janela pra ter certeza de que está tudo sob controle lá fora, mas não afasto totalmente a cortina. não. por detrás das cortinas as coisas devem ser encaradas de uma vez, sem pausas, sem meio termo. acendo a luz, dou uma boa olhada no quarto, no corredor, entro no banheiro e meto meus olhos no rejunte dos azulejos, conto de um a um numa parede inteira. o formigamento continua, agora pelas pernas. eu nunca me lembro onde deixei o maço e o isqueiro, eu tenho essa mania de não guardar os dois no mesmo lugar. é como eu e a garota. nunca estamos os dois no mesmo lugar. e falar sobre isso é como abrir um pouco mais uma dessas cortinas, pesadas, puídas. é olhar lá fora e ver os motivos e os desejos caídos na calçada. é confundir o que se sente com o que está sentindo naquele exato momento quando um para de falar pra ouvir a voz do outro. então eu encontro o maço e continuo tentando me lembrar. daí fuçando numa gaveta atrás do isqueiro encontro uma fita k7 com aquelas músicas que a gente dançou. fecho então a gaveta e aquela sensação cessa. alguma coisa vai acontecer, mas não agora, porque está tudo sob controle aqui dentro também.

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